quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Ai, ai novelas.

Após assistir ao último capítulo da novela...

"Filha, vamos escrever uma novela?" _ com os olhos borbulhando de lágrimas.

"Não. Escrever novela é muito difícil mãe. Já reparou que tudo tem que ser perfeitamente encaixado?
A mocinha sempre está andando pela cidade quando esbarra com o mocinho, estes se olham - e já se descobrem o grande
amor de suas vidas - e a partir daí toda hora se encontram pela cidade, até que resolvem se entender, namoram, separam,
namoram, separam e todo a população e o universo parece conspirar contra eles, ela vive a sofrer e ele a tentar enfrentar o mundo por ela e o final só é um bom final se aparece aquela típica cena de felizes para sempre (que convenhamos não é nada assim na realidade). E o vilão? Um super milionário ambicioso que no final decide que será melhor ficar preso quietinho e não tentar acionar seus advogados, subornar juizes ou fugir para Suiça isso tudo porque por dentro ele morria de amores pela mocinha ou tinha inveja do mocinho e não conseguia viver como eles mesmo nadando em rios de dinheiro. Sem contar as cotas. Nas novelas tem a obrigatoriedade de ter um mínimo de pessoas negras e deficientes - físicos ou mentais - na história, mas se você colocar negros, deficientes, obesos, índios, nerds, idosos, prostitutas e todo o tipo de massa excluída você vai parecer aqueles autores chatos que no fundo querem ficar dando liçãozinha de moral e, que, sinceramente, ninguém tem muita paciência pra isso e o pior é se caso você queira que os protagonistas da história sejam, aparentemente, dessas "classes sociais" menos favorecida. Não, mocinha tem que ser perfeitamente modelada pra ser mocinha. Cara de boneca, corpo de deusa. Para quando ela sair do banho e passar o creme hidratante da Avon ou Natura, todas as mulheres que não tem o menor tipo de mocinha acharem que se comprarem podem ser como ela, e, pior, podem ter o poder de conquistar o mocinho dela. E o mocinho por sua vez é aquilo, que que isso de bom, homem forte, bonito, inteligente, com dinheiro (atenção: ter dinheiro é diferente de ser rico), sensível, delicado, carinhoso, esperto, moralmente correto e ainda se veste bem. Quer mais? E como se não fosse muito ainda dá "toco" em todas as outras musas da novela pra ficar com a mocinha que provavelmente aparecerá na pele de uma mulher linda moradora de uma região pobre da cidade. Sabe qual a probabilidade de isso acontecer com nós mulheres reais que acordamos despenteadas e com bafo matinal, que repetimos a roupa pelo menos duas vezes na semana, que vamos ao banheiro (porque mocinha só aparece no banheiro em cenas tórridas para mostrar o corpitcho que durou dois meses para ganhar antes de começar a gravar), que não temos personal trainner, que temos que aprender a andar com o salto quebrado, temos que colocar alfinetes em botões pulados e as vezes andamos com o batom borrado? Muito raro. Por isso eu não gosto de novela, é tudo tão artificial que mesmo que eles tentem levar para a realidade sempre terá aquele ar plastificado e a mocinha pobre usará Farm e Carmen Steffens, ou seja, surreal. Infelizmente enquanto não tenho nada de interessante para assistir no horário nobre me saboreio deliciando a vida que todas nós mulheres queríamos ter, chorando como se as declarações fossem para nós, morrendo de rir como se as brincadeiras fossem com a gente, tentando entrar no mundo televiso ao menos para respirar por um segundo o mesmo ar do Cauã Reymond e tudo isso só para discontrair o nosso mundo tão sufocado. Por isso mãe, que é bem melhor nós tentarmos escrever um livro....

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