terça-feira, 10 de julho de 2012

Estações-coloridas


A tarde de outono entrava pela janela.
As folhas lá fora insistiam em colorir a calçada
entre um marrom-natureza e um coral-ensolarado.
O ar é fresco e balança os cabelos brilhosos das meninas,
entre elas, a mais doce está lá.
Sua pele branca que parece as nuvens na primavera.
Parece impossível tocar.
E o seu sorriso muda meu dia, transforma em um delírio.
Me teletransporto para o seu mundo e lá eu queria ficar.
A doce menina de meias bordadas sentada no meio-fio a brincar.
Suas maças rosadas se lambuzavam no picolé colorido que devorava calmamente.
Seu cheiro atingia a janela do meu quarto e do parapeito eu a admirava.
Um perfume doce-tutti-fruit.
"Olhe para mim doce menina" eu ficava a pensar.
Ela ensaiava um sorriso, retribuia uma piscadela e se engraçava com os meus fios rebeldes a dançar com o vento.
Eu não ousava chegar perto dela.
Um menino esquisito como eu.
Pernas finas, meias pretas desbotadas, magro demais, alto demais, feio demais.
E pra piorar o tempo me trouxe uma linda janela em meu sorriso.
Mas porque todo dia a menina vinha brincar em frente a minha casa?
Todo dia eu brincava de admirar.
Eu gostava dessa brincadeira e ela parecia amar.
Tão nova e já sabia instigar a curiosidade de explorar.

A manhã de inverno cobria a janela.
Transformando a rua em uma linda massa de algodão.
O vento divergia entre um gelado-polar e um frio-cortante.
Todas as crianças construindo bonecos na rua, entre elas, a menina dos meus sonhos.
Sentada no meio-fio dedilhando os bolinhos de neve que se encaixavam perfeitamente em suas mãos.
Mãos de menina. Pele de princesa.
Onde ela tocava nutria vida, saia arco-íris, nasciam fadas.
"Olhe para  mim doce menina" eu ficava a pensar.
Ela me desenhava na neve, se divertia com o meu olhar, brincava de me assustar.
E nos divertiamos assim.
Ela na rua a me esperar e eu cá na janela a admirar.

O luar da primavera clariava as casas.
Tudo era claro, tudo era branco, tudo era romântico.
E transbordava aromas entre Foundie-de-queijo e chocolate-quente.
E todas as crianças surgiam acompanhadas na rua, entre elas, a minha doce pequena.
Porém, permanecia só sentada ao meio-fio a me esperar.
O seu vestido florido entre tons de rosa-maravilhoso e rosa-tudo-que-eu-quero.
Cores que constrastavam com o tom dos seus olhos. Azul-esverdeado ou Verde-azulado.
Que seja, olhos que me caçavam e suplicavam a minha presença ao seu lado.
Enquanto isso, meus olhos castanhos-sem-graça a fitava com tanta vontade que a fazia morder os lábios de vergonha.
"Olhe para mim doce menina" eu ficava a pensar.
Ela colhia as flores nos jardins e as cheirava, fazia pic-nic sozinha e lanchava com suas bonecas... tão só.
E eu continua na janela, banguela e sem coragem de falar com ela.

O sol do verão chegou com as férias.
Tudo era vida, alegria e correria.
As crianças brincavam de bola colorida, pega-pega e salada mista.
Até mesmo a minha menina.
Na calçada estava a sua marca, mas ela não estava lá.
Procurei loucamente a minha amada para brincarmos de olhar.
A tarde passou e quando surgiu um crepúsculo lilás-verão ela apareceu.
Vinha do final da rua andando de mãos dadas.
O meu coração-vermelho-sem-graça palpitava.
A sombra das casas não deixava eu ver o rosto da mão que lhe acompanhava.
Sentou em frente a minha janela e com ela um menino.
Pernas finas, meias desbotadas, cabelo bagunçado. Magro demais, alto demais, feio demais.
E com uma enorme janela no sorriso.
"Olhe para mim de volta doce menina" eu ficava nervoso a pensar.
Mas a menina só olhava para o menino a brincar.
Pela primeira vez nada importava, nem mesmo a janela, nem a brincadeira de admirar.
O que faltava para a doce menina me olhar?
Quem sabe um pouco de coragem ...




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