segunda-feira, 26 de julho de 2010

Tarde de chuva

Mais uma noite mal dormida.
As deformações do meu colchão já estão numa luta constante com a minha coluna.
Pelo visto (na verdade, sentido), ela está perdendo...
Mais uma vez o meu quarto é tomado pelo cheiro inconfundível da manhã de chuva
com baba na fronha e o leve e fresco odor da nicotina pregnada na casa.
Incessante vício da minha vó.

Depois de tirar as remelas do olho, vou até a janela.
Pingos pesados, brutos batendo vorazmente no vidro.
Querem entrar?
Fico admirando por um tempo a dança da chuva e as pessoas correndo pela rua tentando
desviar dos meteoros aquosos que não paravam de cair.
Foi quando eu reparei no final da rua um movimento animado.
Eram crianças.. por volta de duas ou três, quatro ou cinco...
Rodavam e pulavam nas poças e pareciam cantar alguma coisa.
Estavam felizes.
Não sabiam o que era chuva? Idiotas...
Mas não consegui desviar meu olhar delas.
Alguma coisa estava me prendendo...
Até parecia que eu nunca tinha brincando na chuva...
É. Eu nunca brinquei na chuva.
Lembrei-me quando era criança e meus amigos ficavam desenhando uma nuvem carregada
no papel e colocavam na janela para fazer chover. E chovia!  Macumbeiros-Mirins.
E então eles chegavam à casa e perguntavam se podia sair pra brincar.
Já começava a calçar a galochinha azul da Turma da Mônica para...

_ Você está louca Carla? Vai sair num tempo desses?
O quê? Brincar na chuva? Nem pensar!
Depois fica numa tosse danada, com febre de madrugada... só vai trazer dor de cabeça pra gente!

Será que não tinha Neosaldina naquela época? (Pensamentos irônicos)

Então, restava-me brincar do lado de dentro da janela.
De vez em quando eu parava e admirava a brincadeira dos amiguinhos na rua..
era mais legal que a minha, sozinha.
Saindo do túnel do tempo fiquei mais um tempo pensando o porquê dos pais não deixarem
seus filhos aproveitarem intensamente o pouco tempo para serem felizes.
O pouco tempo que lhes resta para começar a serem bombardeados com responsabilidades,
problemas, mais problemas..
É injusto. E passa tão rápido...
Como passa rápido.

Quando voltei à tona, olhei o despertador e marcava meio-dia..no mesmo instante:
_ Carla, vem almoçar. Acordou tarde, não tomou café da manhã, não tomou banho, não viu
a manhã chegar, nem ir embora!

Engraçado como a manhã passou rápida..
É tão rápido.

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